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entrevista a HERBERTO HELDER

Entrevista a Herberto Hélder (na foto) por Fernando Ribeiro de Mello, publicada do Jornal de Letras e Artes n.º 139, de 17 de Maio de 1964. «Os cinco livros que até hoje publiquei pouco significam agora para mim!» - Diz-nos desassombradamente Herberto Helder Herberto Helder, cujo último livro, «Electronicolírica», veio levantar sérios problemas em volta do conceito que a sua poética parecia anunciar acaba de publicar em conjunto com António Aragão e vários o colaboradores o caderno «Poesia Experimental» que vem confirmar a viragem operada na sua obra. Fernando Ribeiro de Mello/ Jornal de Letras e Artes – Como considera criticamente a evolução da sua produção poética, desde «O Amor em Visita» ao recentemente publicado «Electronicolírica»? Herberto Helder – Em certo sentido (que também prezo), não houve evolução. Esse sentido é o de fidelidade às bases da minha experiência – a descoberta do modo – que, fundamentalmente, se cumpriu na infância. A experiência exterior poderá ser consider

Manuel António Pina

Documentário Manuel António Pina from Terra Líquida Filmes on Vimeo .

Entrevista a João Cabral de Melo Neto

Abaixo, alguns trechos de uma entrevista com João Cabral de Melo Neto, concedida em 1986. O poeta dispensa maiores apresentações. - Por que o senhor tem tanta prevenção contra a subjetividade? Há um conceito mais ou menos generalizado de que a poesia é uma manifestação extremada da subjetividade... João Cabral : "Há uma diferença. Tenho aversão à subjetividade. Em primeiro lugar, tenho a impressão de que nenhum homem é tão interessante para se dar em espetáculo aos outros permanentemente. Em segundo lugar, tenho a impressão de que a poesia é uma linguagem para a sensibilidade, sobretudo. Uma palavra concreta, portanto, tem mais força poética do que a palavra abstrata. As palavras pedra ou faca ou maçã, palavras concretas, são bem mais fortes, poeticamente, do que tristeza, melancolia ou saudade. Mas é impossível não expressar a subjetividade. Então, a obrigação do poeta é expressar a subjetividade mas não diretamente. Ele não tem que dizer "eu estou triste". Ele

o jogo em que andamos

Se me dessem a escolher, escolheria esta saúde de saber que estamos doentes, esta felicidade de andarmos tão infelizes. Se me dessem a escolher, escolheria esta inocência de não ser um inocente, esta pureza em que passo por impuro. Se me dessem a escolher, escolheria este amor com que odeio, esta esperança que come pães desesperados. Aqui acontece, senhores, que jogo com a morte. juan gelman versão de luís filipe parrado

CHOREI COM OS CÃES

Conduzia na estrada do Barranco do Bebedouro - serpenteada, estreita, iluminada pela lua cheia. De repente, um vulto na minha rota. Não pude evitar. Só o vi pelo retrovisor. Saí do carro e ajoelhei-me junto do animal, um rafeiro alentejano, lindo, que ainda me olhou nos olhos e disse baixinho: - É pá, mataste um cão sem dono. A lua cheia inundava o silêncio e eu levei-o ao colo para dentro do carro. Quando cheguei a casa, só pude fazer o que fiz. Chamei o Dique e encarreguei-o de convocar todos os cães da aldeia. O funeral foi marcado para a meia noite. Todos compareceram. Solidários, quatro amigos mais corajosos ofereceram-se para cavar a sepultura, num canto da horta, onde espontâneas medravam hortelãs. Todos reunidos no silêncio. Um uivo comovido despoletou um choro colectivo. Só o Dique não chorou. Trazia na boca uma papoila que largou em cima da sepultura. Eufrázio Filipe in  http://mararavel.blogspot.pt/

dez palmos acima da insignificância

vivo na cave do universo a contar os buracos da lua e as migalhas que caem da mesa nua os que por mim passam fingem que não me vêem vasculhando os restos e o rasto das nuvens vivo no estrume do subsolo meio caminho escavado entre as artérias da penúria e o sangue da usura os que a mim se chegam com falas mansas e dentes como lanças atiram-me que sou um fardo um espinho cravado nos luminosos astros ainda assim eu ardo dez palmos acima da insignificância v. Solteiro in" a arquitectura das palavras "

A Dimitris Christoulas, em Atenas, Abril de 2012

de súbito insustentável na praça Syntagma a relva surgiu vermelha junto do tronco impassível da árvore abandonada e toda a Grécia estremece com o espanto de um grito um grito só e aflito que cruzou a Terra toda como se fora pequena como se valesse a pena despertar ainda a aurora e jaz num corpo vazio que nos perturba a cidade foi cada passo contado que o levou ao destino foi a certeza da Vida que lhe aconselhou a morte e um tiro redentor que suas mãos libertaram agitaram o torpor das consciências paradas ali foi digno Dimitris contra os tiranos da vida a provar-nos às mãos-cheias que somos senhores de tudo e só nós somos os donos da hora da liberdade quando a centelha da honra se acende dentro de um peito vestido de humanidade legou uma nota breve bordada a sangue e a revolta por não mais o merecerem os tiranos que nomeia mas o olhar derradeiro abrange este mundo inteiro adivinha-se fraterno militante solidário numa paz feita na guerra que vestiu de dig